logo-igreja-metodista

O INÍCIO NA INGLATERRA 

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partindo o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.[1]”

Nos meses seguintes, pequenos grupos se encontravam com Wesley para reuniões espirituais e estudos da Bíblia. Com essa atitude, o grupo ficou conhecido como sociedades. É de ressaltar também, que essas reuniões não competiam com os horários de reuniões nas igrejas. Normalmente, aos domingos,

Wesley e seu irmão Carlos pregavam nos púlpitos das igrejas de Londres. Eles pregavam sermões incentivando uma mudança de vida, ou seja, o contrário da maioria das igrejas que estavam acostumadas com sermões sem vida e frio.

Em 24 de maio de 1738, Wesley deixou registrado em seu diário a experiência religiosa em ter o coração estranhamente aquecido. Essa data é lembrada como um marco para nós metodistas. Isso implica que as ações de Deus estão além das nossas convicções. A igreja precisa estar apta a servir a sociedade e fazer a diferença na mesma. Para isso, é preciso de homens e mulheres com uma visão de Deus, uma visão humanizadora àqueles (as) que sofrem o caos da pobreza e das injustiças sociais.

Hoje as igrejas estão preocupadas com seu status e membresia, não se pode esquecer que os propósitos de Deus a se cumprir na vida dessas pessoas menos favorecidas, estão ligados à igreja. O envolvimento do metodismo com as questões da sociedade é uma marca que está na história do surgimento do movimento desde o séc. XVIII. Um dos contextos históricos da Inglaterra foi a Revolução Industrial. E isso, fez com que o trabalho do combate à escravidão e luta por melhores salários, principalmente o apoio às crianças pobres oferecendo o ensino básico, fez com que os metodistas se destacassem.

Por volta do ano 1700 a educação na Inglaterra era privilégio somente de ricos. Por essa razão, John Wesley fundou a Kingswood School em 1748, por entender que o ensino é fundamental na formação de uma sociedade mais justa e igualitária, principalmente às crianças pobres sem condições de estudarem.

Várias famílias que foram para a América do Norte, nas 13 Colônias, levaram as práticas do metodismo. Quando eles conquistaram a sua independência política, desvincularam-se da religiosidade exercida na Inglaterra. Logo, foi criada a Igreja Metodista Episcopal, em 1784. Somente após a morte de John Wesley, que a Inglaterra constituiu o metodismo como denominação independente em relação à Igreja Anglicana.

O Metodismo na Inglaterra:

A primeira coisa a estabelecer é que o Metodismo faz parte integrante do movimento Protestante. Herdeiro da Reforma, mediante a Igreja da Inglaterra, cujos 39 Artigos formam a base dos Artigos de Religião do Metodismo e cuja liturgia (O Livro de Oração Comum) exerceu grande influência na liturgia metodista, o Metodismo aceitou as três colunas principais da Reforma – A autoridade das Escrituras, a Justificação pela Fé e o Sacerdócio Universal dos crentes (que também podemos simbolizar pelos “Três P”, ou seja Palavra, Perdão e Povo).

O Metodismo na Inglaterra no tempo de Wesley:

Cinco chaves para compreender nossa herança Metodista:

 Experiência do dia 24 de maio de 1738;

A famosa experiência de João Wesley numa reunião à Rua Aldersgate, em Londres, a exemplo de Martinho Lutero, na torre de Wittenberg, marcou o clímax de uma longa busca de um relacionamento satisfatório com Deus em Cristo. Qual é o sentido desse evento? Pela descrição do próprio Wesley, os metodistas têm, tradicionalmente, enfatizado o “coração aquecido”. E certamente a emoção faz parte da experiência; afinal, o ser humano não é só cérebro, mas os sentimentos e emoções lhe são molas de ação. Mas uma das coisas mais importantes da descrição do próprio Wesley sobre “Aldersgate” é que houve uma íntima ligação entre a experiência religiosa e a sua doutrina. Uma outra maneira de dizer a mesma coisa seria dizer que a compreensão doutrinária de Wesley (muito embora profundamente fundamentada na Palavra de Deus) surgiu de sua experiência. Teologia, em Wesley, não é algo distante, especulativo, divorciado da vida; pelo contrário, ela nasce da vida religiosa, ou seja, da experiência da salvação. Por isso vale a pena estudarmos o registro de Wesley sobre o que aconteceu no dia 24 de maio. Podemos fazer isso em poucas linhas, mas cada uma poderia fornecer matéria para uma boa discussão.

(1) A experiência de Wesley nasceu da Palavra de Deus. Alguém lia do Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Foi no momento que Wesley ouviu da “mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo” que ele experimentou a fé! Confirmou o que Paulo dissera que “a fé é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm. 10.17).

(2) A experiência foi fundamentalmente do Dom da fé. Mas Wesley aprendeu, com Lutero, de que consiste a verdadeira fé – é confiança (não crença). “Senti que confiava em Cristo, Cristo tão somente para minha salvação…”. Fé, então, é confiar a vida nas mãos de Cristo, estabelecer aquele relacionamento pelo qual Cristo se torna Senhor e Salvador pessoal.

(3) Com o ato de confiar sua vida a Cristo, estabelecendo um novo relacionamento, Wesley foi perdoado, ou seja, percebeu que Cristo havia tirado seus pecados – não era apenas o cordeiro de Deus, que tira pecado do mundo, mas o Salvador que tirava os pecados de João Wesley.

(4) Daquilo que Cristo lhe fizera, o Espírito Santo testificou, pois no mesmo momento “uma segurança” lhe foi dada de que Cristo havia tirado seus pecados e o havia salvado “da lei do pecado e da morte”.

(5) Só? Não, há mais! Wesley diz que começou a orar pelos inimigos e perseguidores! Sem mencionar o Novo Nascimento, Wesley demonstrava nesta nova capacidade de perdoar que Deus não havia apenas lhe perdoado, mas também transformado o seu íntimo. Como os metodistas cantam: “Tu não somente perdoas, purificas também, ó Jesus”.Concluímos, então, que uma das principais características do metodismo wesleyano era, ao invés de teologia especulativa, uma íntima conexão entre a doutrina e a experiência.

Evangelização;

Devemos lembrar que não foi apenas João Wesley que teve uma experiência religiosa transformadora em maio de 1738; Carlos, irmão de João Wesley, também, no domingo anterior, recebera o dom da fé. Carlos traduziu sua experiência, que ocorrera no Domingo de Pentecostes, num hino que lembra as línguas de fogo do primeiro Pentecostes – “Mil línguas eu quisera ter”. em certo sentido, enquanto João viajava por toda a parte proclamando através da pregação as boas novas de vida nova em Cristo Jesus, Carlos, através de 6.500 hinos de sua autoria também evangelizava. Há certas características da evangelização wesleyana que deviam ser notadas: Primeiro, o século XVIII presenciou o nascimento de uma nova classe social, a dos operários.

Os primeiros representantes dessa nova classe eram mineiros. Oprimidos pelas longas horas de trabalho árduo e baixo salário, os mineiros não eram levados em conta pela igreja oficial, e poucos deles procuravam a mesma. Foi aos mineiros de Kingswood e Bristol que os metodistas primeiro foram para lhes oferecer vida em Cristo! Mais tarde, com o crescimento das fábricas, os operários e operárias seriam objeto da mensagem metodista e fariam parte integrante da sociedade e partes metodistas. Muito antes da igreja anglicana tomar consciência da própria existência dessa nova classe, os metodistas já lhes ministrava.

A segunda coisa a notar é que havia necessidade de descobrirem-se novos métodos e agências para atender a essa nova situação. A pregação ao ar livre provou ser o meio para atingir essa nova classe. George Whitefield e Wesley pregavam aos mineiros ao saírem estes das minas, pois os mineiros não procuravam a igreja. Nas praças de Londres, Bristol e Newcastle, os metodistas ofereciam Cristo ao público atônito com essa inovação! Mais se a pregação ao ar livre provou ser o instrumento, os agentes, muito mais do que ministros ordenados, passaram a ser os pregadores leigos (pregadores sem formação teológica). Desde a pregação do jovem Tomas Maxfield, que trabalhava com Wesley como “filho no evangelho” no seu centro em Londres (a “Fundição”) e que Suzana Wesley considerava tão vocacionado como seu próprio filho João! – pessoas com graça (experiência pessoal de fé), “dons” (capacidade para proclamar claramente as boas novas) e “frutos” (resultados positivos da sua pregação em termos de despertamento e conversão) e que se dispunham a trabalhar nos lugares onde Wesley indicava, mais que se comprometiam a ler pelo menos 6 horas por dia, militavam como profetas (proclamadores) sob a orientação de João Wesley.A terceira coisa a ser notada nesta evangelização metodista é sua estreita ligação com o serviço ao povo e ação social. Talvez baste lembrarmos que a última carta que o velho Wesley escreveu foi endereçada a William Wilberforce, encorajando na sua luta no parlamento inglês contra escravidão.

A terceira chave: O povo;

Wesley nunca teve a intenção de que o metodismo passasse a ser uma nova igreja, ele pretendia que fosse um movimento em sua amada igreja anglicana (da qual nunca saiu) para seu despertamento e capacitação para o exercício da missão de Deus. A preocupação de Wesley era o POVO. Ele dizia que seus seguidores eram “o povo chamado Metodista”. Já vimos acima que deste povo Wesley conseguiu seus pregadores e pregadoras – pois Wesley permitia que mulheres como Mary Bosanquet pregasse. De Mary, Wesley dizia que sua palavra era tudo “luz e fogo”. Assim Wesley descobriu um modo fácil de expressar a doutrina de Lutero, o “Sacerdócio Universal do Crente”.

Mas a ênfase do povo não pára com a pregação de leigos, por mais importante que fosse: o Metodismo via sua missão como uma realizada pelo povo e em prol do povo. É por isso que nos principais centros do metodismo wesleyano surgiu escolas, orfanatos, ambulatórios, fundos de empréstimo, centro de artesanato etc.. foi por isso que Wesley e os Metodistas lutavam contra a escravidão que degradava e explorava o povo africano. Foi para poder servir o povo que o próprio Wesley procurava ganhar todo dinheiro possível e economizar o máximo – não para ficar rico, mais para ter recursos para “dar tudo possível”. Por isso, já nos seus dias de professor em Oxford, ele havia economizado dinheiro que normalmente teria gasto com carvão para sua lareira. Ele agüentava o frio dos invernos ingleses para ter dinheiro para pagar uma professora de uma classe de moleques pobres da cidade de Oxford.

A Quarta chave é a ênfase na Santificação / Perfeição;

Para Wesley, a santificação é um processo de crescimento em graça que começa no momento que, pela fé, Deus perdoa o pecador arrependido e inicia o processo da sua transformação íntima. A perfeição é um Dom de Deus pelo qual aperfeiçoa sua obra no crente, enchendo-o de amor para com Deus e o próximo. A chave para entendermos a perfeição é o AMOR. Wesley tinha muitos sinônimos para a perfeição, sinônimos estes que não inventou mas achou na palavra de Deus. Perfeição é pureza de coração, é imitação de Cristo, é comunhão ininterrupta com Deus

e com seus propósitos, mas mais do que qualquer outra coisa, é o Amor. O estudo do livro aos Hebreus o convenceu da absoluta necessidade de santidade na vida do discípulo de Jesus.

Carlos Wesley ensinou aos metodistas a doutrina através dos seus hinos, poucos dos quais chegaram até nós. Talvez a mais clara expressão da doutrina se encontra no seu hino “amor divino que excede todos os amores” (“grande amor”, nº 293 no HE).

“Ó Senhor, que a tudo excedes, Dom celeste, Amor sem par,

Vem, coroa os teus favores, Entre em nós vem habitar.

Grande Amor, Amor bendito, Ó divina compaixão,

Vem, socorre ao que padece, Faze nele habitação”

Para Wesley, a primeira epístola de João é a melhor do comentário sobre a perfeição cristã. Nesta epístola, a ligação entre o amor e a vida cristã é patente. “aquele que diz que está na luz mas odeia seu irmão ainda está nas trevas até agora” (2.9). O mesmo autor adverte: “filhinhos, não amemos de palavras nem de língua mas por ações e em verdade” (3.18), o que muito nos lembra de Tiago que questiona a fé daquele que nada faz em prol do irmão sem roupa nem alimento (2.14-15).

Uma Quinta chave é a ênfase missionária do Metodismo Wesleyano;

Os metodistas definiram sua razão de existência em termos de “Reformar a nação, particularmente a igreja, e espalhar Santidade Bíblica em toda nação”. Acabamos de ver de como serviam impulsionados a levar as boas novas aos operários e aos pobres, geralmente negligenciados pela igreja oficial. Mas havia também algo dentro do metodismo que o fez vencer as barreiras dos mares, pois logo ele é levado espontaneamente, para a Irlanda, Escócia, as Ilhas do Canal, para o continente europeu e para o Novo Mundo – para Antigua no Caribe, para as Colônias que viriam a ser os EUA, para Terra Nova, parte do atual Canadá. Aliás, uma igreja que não é missionária é ou morta ou moribunda.

[1] Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.