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Sua dedicação à causa do Senhor e à Igreja Metodista foi a de um discípulo!

 

 

 

Arthur Theodore Peterson Jr. foi um protestante nato! Nascido numa família tradicional e criado num lar metodista, Pete (é como os amigos o chamavam) sentiu a necessidade e até um certo dom para se tornar pastor e – por que não? – um missionário, lembra em seu livro, “Um exame crítico do Cristianismo moderno” (PETERSON, p.20.). Assim, seu chamado germinou, cresceu e se desenvolveu com o apoio de sua família, amigos e igreja local. Pelo que sabemos através de relatos de sua filha, D. Debora Cavalher, o rev. Peterson frequentou a Igreja com seus pais, desde a mais tenra infância, na qual cresceu e desenvolveu a sua fé e a experiência da fraternidade cristã.

Dotado de poucas habilidades com música e artes, como ele mesmo descreve em sua obra, “Um exame crítico do Cristianismo”, Peterson orientou sua caminhada por meio da formação teológica, a qual cumpriu no Seminário Metodista de Candler, na Universidade de Emory, em Atlanta, Geórgia, EUA. Quando chegou ao Brasil, em 7 de dezembro de 1947, o missionário já tinha iniciado a formação básica de sua família, ao lado de sua esposa e memorável companheira, D. Marianna Allen Peterson e seu filhinho, Arthur Theodore Peterson III [Ted Peterson], nascido nos EUA. Nasceram, portanto, no Brasil Myra Agnes [a Peggy], David e Debora.

Tendo desembarcado no Rio de Janeiro, dirigiu-se para Minas Gerais, campo de trabalho no qual o Bispo César Dacorso Filho, supostamente, ofereceria a sua primeira nomeação no Brasil. Assim, Peterson e sua família se fixaram na cidade de Juiz de Fora, no intuito de aprender o idioma local. Como missionário da Igreja Metodista, Peterson começou seu ministério no Brasil atendendo a Igreja Metodista em Vitória [1949], sendo um dos primeiros pastores a residir na capital capixaba.

Inolvidável foi a sua nomeação para Instituto Rural Evangélico [IRE], do período de 1950-1957. Esta instituição educacional da Igreja Metodista oferecia verdadeira oportunidade de estudo para rapazes, em regime de internato, todos na maioria pessoas simples do campo, os quais ingressavam no IRE a partir dos 15 anos de vida. Com a perspectiva de formar lideranças para as igrejas na zona rural e de treinar líderes que fossem uteis as comunidades rurais, o IRE frutificou e foi uma verdadeira bênção na vida de seus alunos, promovendo a formação de muitos líderes, pastores e profissionais, que alcançaram uma vida melhor a partir de sua formação inicial [alfabetização e as séries primárias ou curso de obreiro] no Instituto Rural Evangélico.

Durante o ano de 1958, Peterson voltou ao EUA para estudos, permanecendo lá durante 1 ano. Este contato com a sua terra natal representava também uma oportunidade de levantar recursos para os projetos da Igreja Metodista no Brasil [IMB], antiga nomenclatura oficial da Igreja Metodista. Em 1959, o missionário voltou ao Brasil e foi designado para a Paróquia de João Monlevade. Em seguida, Peterson seguiu para Belo Horizonte, para a Igreja Metodista em Carlos Prates [1960]. Depois, o missionário foi designado para dirigir o Instituto Granbery da Igreja Metodista, sendo nomeado em pleno auge do Golpe Militar [1964]. Sua atuação a frente da instituição protagonizou uma era de credibilidade e de total isenção política em relação aos problemas vividos pelo país neste contexto, tonando-se notória a sua conduta isenta, seja no cumprimento de seus deveres como cidadão, seja como diretor e figura pública a frente do Instituto Granbery da Igreja Metodista.

Sua saída da direção do Granbery não aconteceu da forma mais honrosa, embora não se tenha sido comprovada qualquer improbidade administrativa, das quais injustamente [e historicamente] tenha sido acusado. Seu ministério missionário no Brasil daria prova de seu valor e do obreiro que foi. Assim, em 1972, Peterson seguiu para o Nordeste do país, para o Campo Missionário de Fortaleza, atendo uma igreja local na capital cearense e outra comunidade local numa cidadezinha que distava 60 Km de Fortaleza. Poucos sabem, mas ainda nem se pensava ou cogitava a existência ou criação da REMNE [Região Missionária do Nordeste]. Portanto, os campos missionários em Fortaleza, assim como na Bahia, pertenciam a Quarta Região Eclesiástica da Igreja Metodista (4ªRE).

Em 1980, de volta a Minas Gerais, o rev. Peterson foi nomeado para diversas igrejas locais e paróquias, na capital e nas cidades da região metropolitana de Belo Horizonte. Peterson ainda serviria a Igreja Metodista em Belo Horizonte e na 4ª Região por 17 anos. Destacamos as seguintes igrejas que fizeram parte de seu ministério nestes últimos anos de sua trajetória: Altos dos Pinheiros, Izabela Hendrix, Santa Maria do Itabira, Planalto, Concórdia, Cachoeirinha e Nova Lima, entre outras. O incansável missionário aposentou-se então e se mudou para a cidade de Campanha, no sul de Minas Gerais. Sua missão, pós-aposentadoria, foi cuidar da sua esposa e companheira com mais proximidade e sem envolvimento com o ministério pastoral ativo. Seu carinho e cuidado foi determinante nos dias mais frágeis de nossa saudosa e inesquecível irmã, D. Mariana Peterson.

Desde 2000, após o falecimento de D. Marianna, Peterson adotou o ministério da oração e da meditação, onde começou a escrever sobre os assuntos que lhe vinham à mente. Essa é uma das maneiras que encontrou de pregar a Palavra de Deus, enviado suas meditações e reflexões a uma “congregação de amigos”, a qual boa parte são seus amigos metodistas da 4ªRE. Sendo limitado por vários problemas de saúde e pela distância da igreja local mais próxima, já que mora em Campanha e congrega em Varginha, o rev. Peterson vivia o auge de sua vida cristã regrada e disciplinada fisicamente. Certa ocasião, ele me mandou a seguinte carta, após uma visita que o fiz:

“Meu amigo Gercymar:

Vou escrever com dificuldade, mas preciso dizer ao senhor como gostei do Cristianismo Simples — seus escritos — os estudos que você escreveu.

Sempre gostei das Bem-aventuranças e você escreveu a verdade com mais algumas sugestões que vão ajudar. De fato, elas são o primeiro passo para um cristianismo mais completo. Com elas vou crescer um pouco mais.

Já comecei: mostrando meu amor para a família e vou mostrar para outras pessoas na minha lista de orações. Eu passo tempo na garagem orando pelas pessoas que passam na rua e agora vou tentar fazer com que elas saibam que eu estou as amando. Creio que a oração tem uma certa comunicação e que elas já sabem do meu interesse por elas. Agora vou tentar dar-lhes uma coisa mais concreta.

Muito obrigado por sua visita. É bom ter uma pessoa presente por quem está orando, uma vez ou outra. Estou fraco demais para ir à igreja. Deus diz para orar. Ele sabe das minhas intenções e oro a Ele. Estou tentando viver uma vida espiritual e assim posso ir para a vida eterna.

Hora de parar para um lanche. São 4 da tarde e chega de carta.

Que o Bom Senhor te abençoe e conserve em boa saúde e que você esteja com Jesus.

Sinceramente,

Arthur Peterson”

 

Aos 92 anos, o rev. Peterson se mostrava ainda um leitor voraz de múltiplos livros e revistas, de amplos interesses, o que o constitui de uma agudez crítica inimaginável. Escrevia e discutia sobre diversos assuntos da atualidade [naquela época] ou ainda qualquer assunto que lhe fosse proposto, evidenciando uma lucidez pouco comum aos homens de sua idade. Seu maior comprometimento era até então, como já dito anteriormente, com os ministérios de oração, meditação e de evangelização, pelo qual procurava difundir a Palavra de Deus, distribuindo folhetos evangelísticos de porta em porta ou nas praças de sua cidade, anunciando o amor de Cristo a todas as pessoas, divulgando a Palavra da Vida, por meio de literatura cristã específica. Assim, nos lembra a Palavra do Senhor: (…) a quem honra, honra (Rm 13.7).

No dia 17 de junho de 2018, o rev. Arthur T. Peterson Jr. foi chamado a glória e o descanso eterno. Ele era um grande irmão, amigo e companheiro de jornada. Tive a grata oportunidade de demonstrar a ele o que representava sua amizade e companheirismo, ao ponto de ser nominado por ele como amigo. Deus o recolheu aos 98 anos de vida e o chamou ao repouso eterno. Mas uma vez sinto que ficamos empobrecidos, já que sua amizade enriquecia e regava o Evangelho na terra. Peterson realmente era como aqueles e aquelas que denominamos como um discípulo de Cristo.

Adeus amigo, nos encontraremos do outro lado da eternidade!

Gercymar Wellington Lima e Silva

 

BIBLIOGRAFIA

CAVALHER, Debora. Fw: fotos e informações [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <jimpaloma@terra.com.br> em 7 de setembro de 2010.

Entrevista: Reverendo Arthur Theodore Peterson Jr. [Pastor Metodista 4ª RE]. Entrevista realizada em 14 de dezembro de 2010. Campanha/MG.

PETERSON JR., Arthur Theodore. Um exame crítico do Cristianismo moderno. Campanha: Edição do Autor, 2010. (Assistido por Debora Anne Peterson Cavalher).