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No dia 13/05/1888, princesa Isabel, assinava a abolição da escravatura. Nada se faz por amor as famílias negras escravizadas ou nada é feito por compaixão de uma Princesa, que naquele momento, era a mandatária de uma nação. Mas sim, por pressão comercial, econômica e religiosa. Foi exatamente nesse tempo, que o Papa Leão XIII, apela a tal princesa que liberte as pessoas escravizadas, pois, elas também eram dignas de respeito. Leão XIII, em seus escritos, deixa claro que biblicamente, toda escravidão traz peso, e essa prática, por parte da monarca, além de pecado, é também prova de sua inconsciência. Isso deixaria claro, assim como escreveu Caio Prado, que Isabel nunca foi essa “mocinha” solícita e benevolente que muitos dizem.

O Papa Leão XIII, em janeiro de 1888, ao escrever para a Princesa, baseia-se no livro bíblico de João, capítulo 3, verso 16 e expõe o amor de Deus pela humanidade em sua totalidade, não por uma etnia preferida! Leão, enfatiza a palavra TODO, a qual está contida no verso, está no sentido que somos iguais diante de Deus, e assim sendo, qual seria o motivo para que tal covardia fosse mantida? Isabel, vinha sendo pressionada, pois, os “pensadores” e economistas da época, entendiam que o negro “livre” seria mais rendoso, e assim, poderiam explorar ainda mais. A falta de consciência desses latifundiários era gritante e a manutenção da castração intelectual de negros e negras era algo que deveria ser tida como carro chefe, pois, assim levariam o povo negro a pensar que não poderiam ser nada mais do que já eram, APENAS ESCRAVOS! E foi exatamente isso que aconteceu, no dia 14, famílias negras voltaram para os cafezais e pomares, e trabalharam ainda mais para terem o que comer. O Dia da Consciência Negra, é o dia da trama, do abandono, da covardia e da exploração. É esse o dia da maior farsa que o mundo já percebeu. Por isso, não há comemoração, e sim reflexão, no desejo de que negros e negras, olhem para si e se percebam em potenciais de lutarem contra toda forma de menosprezo e exploração. Assim também, pensar e reforçar que somos capazes de sermos o que desejarmos ser. NÓS PODEMOS!

Assim como Papa leão XIII, pastores, missionários e outros religiosos brasileiros, que eram abolicionistas, já pregavam e condenavam essa nefasta prática, tais como: Machado de Assis, que além de religioso, em 1879, escreve defendendo a ideia de que todo negro e negra deveriam ter o direito de saber ler e escrever. O Padre Antônio Maria Benevides, que de Mariana-MG, em 1887, escreve que para corte, questionando a Princesa sobre a vida no cativeiro e a intensidade de uma chicotada! Os missionários Metodistas, negros, mas nascidos após a lei do ventre livre, Felipe e Justiniano de Carvalho, os quais em Juiz de Fora-MG, em 1888, pouco antes da assinatura, já pregavam o chamado Evangelho de Libertação, o qual tinha conteúdo profético e abolicionista.

A abolição da escravatura é um misto de revolta e motivação, onde ao longo dos anos, tem levado negros e negras a estarem em todas as classes. Muitos negros e negras, até os anos 1950, tinham vergonha de si pelo constrangimento público que passavam. Mas, anda assim, tivemos negros que serviram de inspiração, como: o advogado e senador Nilo Peçanha, o qual assume a presidência do Brasil em 1909. Abdias Nascimento, em 1940, era um referencial de cultura para o povo brasileiro. Ruth de Souza, atriz, que em 1954 foi indicada como melhor atriz no festival internacional de Veneza. Milton Santos, quem em 1970, revoluciona o ensino da geografia e contribui muito para educação no Brasil. Renê Garcia Jr, economista negro, que desde a década de 1990, tem evidenciado que negros não se limitam a área de humanas.

Hoje, somos gratos a Deus pela presença de negros e negras que nos inspiram e são próximos de outros tantos negros, levando a mensagem de que Consciência Negra é sim, olharmos para nós mesmos e dizermos que a escravocracia brasileira não nos limita. Falarmos hoje da economista Patrícia Marins, da filósofa Djamilla Ribeiro, da Pastora Elisabeth Altino, do Professor Davi Silva, da Ministra de Direitos Humanos Macaé Evaristo e outros negros que nos orgulham. Isso faz crer que Cristo nos libertou (João 8.36) e não precisamos olhar para as chibatadas, mas sim, olhando para Cristo, o qual nos fortalece e nos motiva (Fp 4.13), dando-nos um novo olhar, e assim caminharmos, no desejo de realizarmos sonhos e construirmos novos legados.

O Dia da Consciência Negra, realmente não se comemora, mas, é o dia em que pensamos mais, para fazermos melhor. Hoje somos 54% de um país que decisivamente construímos. Assim sendo, vamos caminhar? Há muito para se fazer e continuar sendo referência. Deus é conosco!

Grande abraço, do Pastor, Amigo e Negro,

Ozéas da Silva Alvarenga

Secretário Regional de Combate ao Racismo e Igualdade Racial 4ªRE