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Qual é o dia da consciência branca? Me fizeram essa pergunta em uma reunião de pastores… Na verdade, essa pergunta, por vezes é feita, no desejo de saber quando se comemorar tal dia. Para um historiador, a consciência branca nunca teve um dia, mas, sim quase quatro séculos. Vale destacar que de 1534 a 1888, no Brasil, aproximadamente 5 milhões de pessoas negras, foram submetidas aos mais perversos tratos da história da humanidade. O povo negro africano, ao chegar aqui, perdeu tudo, inclusive, seus respectivos nomes. Aos nossos antepassados, foram dados nomes de seus donos, como por exemplo: João da Silva, Antônio Pereira, Manuel Souza e outros. Suas esposas, foram para os cafezais e seus filhos, quando meninas, foram até para as fazendas de prostituição e quando rapazes, eram vendidos ou dados como moedas de troca em negociações.

Esse tempo por sua vez, não se limitou a 1888, quando princesa Isabel, assinou a “abolição”, mas, se estendeu aos futuros anos, tendo como verdade afirmações, tais como: negros são sujos, portam déficits de inteligência, só servem para fazer força, aguentam trabalhar no sol e não merecem, se quer, o respeito das pessoas, por terem a “cor da maldição” (Gn 9.22), vale lembrar que essa falsa afirmação teológica, é europeia e branca.

Os primeiros missionários no Brasil eram brancos, mas, todos eles, inclusive as primeiras igrejas evangélicas, desde 1625, por meio da Igreja Evangélica Reformada, passando por Batistas, Presbiterianas e Metodistas, se serviram de negros escravizados, e por isso, não se posicionaram favoravelmente ao povo escravizado dos séculos XVI a XIX.   Essas mesmas igrejas, que pregavam respeito, amor, santificação e fazer o bem ao próximo, eram seletivas ao pregarem para os donos dos engenhos. Em destaque, os grandes fazendeiros contribuíam com o sustento desses missionários, e aí, o cuidado com o pregar deveria ser um princípio cuidadoso. O fato é que essas igrejas missionárias, brancas e elitistas, mesmo que indiretamente, contribuíram com o processo escravocrata no Brasil, e quando houve a “abolição”, também se omitiram em acolher famílias de ex-escravizados, pois, famílias escravagistas frequentavam essas igrejas, e não aceitavam, se quer se assentar nos mesmos bancos! Então, negros não frequentavam essas igrejas.

A consciência branca não foi um dia, mas, um longo período de perseguição, dor, sofrimento e morte. Por causa da consciência branca, no período da escravidão, pouquíssimos negros chegavam aos 40 anos de idade, pois, morriam bem antes, devido a doenças, vida de chibata ou eram assassinados propositalmente. A consciência branca exterminou em 1864, 50% dos negros argentinos, pois, fizeram deles escudos na guerra da Tríplice Aliança, e em 1880, negros morreram de febre amarela, onde covardemente, à eles foram negados atendimentos médicos, pelo fato de serem negros. Vale dizer, que a consciência branca, fez dos ex-escravizados, morarem nos morros, como no Rio de Janeiro é composto o Morro da Providência e demais morros afastados do centro da cidade e das demais cidade, pois, no centro, segundo a consciência branca, não é lugar para negros!  Vale dizer, que só a partir de 1951, negros no Brasil, passaram a sofrer menos, pois, era considerado crime de menor gravidade, desfazer de uma pessoa negra. E ainda assim, há quem pergunte: Quando é o dia da consciência branca?

Porém, o Dia da Consciência Negra, foi inspirado em negros que não se deixaram levar pela realidade assassina de uma consciência branca. Vale lembrar de negros como: Zumbi, Maria Firmina, Adelina, Luís Gama, André Rebouças, Alvarenga Peixoto, Machado de Assim e outros. O Dia da Consciência Negra, é a expressão de força do povo negro, que mesmo olhando ao passado e percebendo seus antepassados sofridos e vivenciados em condições sub-humanas, fizeram dessa realidade princípios de superação para que hoje, pudéssemos ter um presente construído com lágrima e suor, impondo respeito e conquistando seus espaços, e nessas marcas, começarem a construir um futuro ainda mais digno. Vale lembrar de lamentações 3.21, onde a dor e o sofrimento não fizeram do profeta um refém! No Dia da Consciência Negra, comemora-se a esperança que nos fez andar, a força de um povo que não se enverga em meio a ventania, a visão de uma etnia que prima por prosperar, o olhar do povo preto que não se intimida em pensar que é possível ser melhor. O Dia da Consciência Negra, é o dia de celebrar que NÓS VENCEMOS E CONTINUAREMOS A VENCER, pois, nós podemos.

Ao contrário de séculos passados, quando fomos proibidos de termos acesso ao saber, hoje somos: professores, doutores, pastores, políticos, empresários, economistas, médicos e por méritos, estamos em todas as classes e níveis dessa sociedade. E isso, NÓS COMEMORAMOS!

O dia da consciência branca, deveria ser um dia de reflexão, sobre o mal que um povo fez ao outro, mas, não é isso que queremos propor, e sim, o dia da consciência de um povo, que em meio a sofrimentos, porta a bela lembrança de uma vitória, a qual só Deus sabe de fato, o valor que se tem. Poderíamos dizer com o máximo de alegria, Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres (Sl 126.3). Não cultuamos a Zumbi ou a outras pessoas negras, mas, louvamos a Deus que usou essas pessoas, para que, hoje fossemos felizes, visionários e resilientes em nossos planos e projetos.  O Dia da Consciência Negra é o dia da Esperança, Visão, Iniciativa, Luta, Resiliência, mas, principalmente, dia da Vitória, Alegria e Legado. Que os nossos desafios não sejam maiores que a nossa esperança, e que nossa esperança seja sempre inspirada no negro que venceu a perseguição, a dor, o sofrimento e realmente a morte, Jesus Cristo, o negro e santo de Nazaré! Salve 20 de Novembro, o dia de um novo dia para o povo negro. Salve!

Abraços, Ozéas da Silva Alvarenga – Teólogo, Pastor Metodista e Historiador.